" Nunca, nunca faça Isso! Dói demais..."


                                       Alerta de gatilho



Há dias não nos falávamos, ela, que costumava entrar diariamente nas redes sociais, simplesmente sumira. Não era preciso ficar preocupada com ela, vez ou outra, como eu costumava dizer "Era preciso sumir", e quando ela o fazia, entendia. Da primeira vez foi pouco tempo, depois de três dias sem dar noticias, retornou como se nada tivesse acontecido. Mas eu, sensitiva do jeito que sou, percebi que ela não estava bem, mesmo fazendo de tudo para mostrar que estava alegre como todos os outros dias, algo tinha acontecido. 
- Eu te odeio, por conseguir me decifrar, mesmo tão longe e sem ver meu rosto. - Ela escreveu sem ânimo. 
 Resolvo responder com humor, mesmo sabendo que a ocasião não pedia isso. Mas como ela simplesmente amava quando eu a respondia de forma engraçada, mesmo não colocando as risadas pelo chat, eu sabia que por trás da tela, ganhava um sorriso. 
Como no primeiro dia em que nos conhecemos, que, ao decifra-la completamente, dizendo -lhe seus gostos e desgostos, viramos amigas. Ela teimava em dizer que eu tinha super poderes. 
- Você ama isso hahaha
Silêncio.
E mais silêncio.
Vai ver, usar do meu maravilhoso humor não tenha sido algo bom. E dessa forma, o silêncio prevaleceu, exatamente por 8 dias.
Como boa positiva que sou, coloquei na mente que o sumiço, era apenas algo bobo; como a internet caindo, visita em casa, tpm. Mas meu coração gritava em desespero, querendo achar formas de ir ao encontro dela e saber de uma vez o que estava acontecendo.
- " Não tenho coragem de falar isso enquanto você está online, estou morrendo de vergonha de você. Joh, estou grávida." . Aquela mensagem foi como um tapa na cara.
Sumi. Sumi, porque assim como ela, foi preciso absorver tudo o que estava acontecendo. Horas, pareciam dias.
3h15 minutos depois, voltei a entrar e tentar dizer -lhe algo reconfortante, mesmo sem saber o que. Afinal, criança é uma dádiva, vamos adotar o lado positivo.

J: 'Nossa, T. estou feliz por você! Caramba, vou ser titia. '

T: ' Isso não é motivo de felicidade. Meu pai vai me matar!! Ele costuma falar mal das meninas que engravidam cedo, e vai sentir tanta vergonha de mim... '

J: ' Calma... vamos procurar um jeito. Ele vai ter que entender. E o pai do bebê'?'

T: ' Aquele babaca não quer saber de mim!! Mandou eu dar meu jeito. Disse que foi algo de apenas uma noite, e só. Me bloqueou em tudo. Disse que não tem idade para ser pai. "

J: Filho da puta!!! Como assim? Quem ele acha que é pra falar assim com você?? Já falou com alguém sobre isso?

T: Eu não tô bem. Preciso sair.

As mensagens da minha parte continuaram a chegar na sua caixa de entrada.
E por quase três semanas, fiquei mais uma vez sem notícias. Me culpei por nunca pensar em pedir o número dela, ou qualquer outra rede social. Mesmo sabendo que seria em vão.
Ela só voltou a entrar depois de mais ou menos um mês, passado essas três semanas.  Dava pra sentir, em cada palavra que ela me mandava, um certo tom de choro, mesmo que não estivéssemos cara a cara. Foi bem pesado. A cada linha lida, lágrimas escorriam espontaneamente. O sentimento que brotava de mim, era apenas de querer abraca-la e dizer que ia ficar tudo bem. Mesmo sabendo que não iria ficar. Chegando aqui, nessa parte do Texto, não tenho forças para detalhar cada palavra dita. Apenas em resumir em uma palavra: aborto.
Depois de desabafar, e contar o que queria fazer, ela saiu e voltou a sumir. O pânico agora tomava conta de mim. Não tinha como ajudá-la. Mais uns cinco ou seis dias de espera, mais um barulhinho da notificação, era ela mas a mensagem foi outra pessoa quem escreveu: seu irmão. 
Falando por cima, contou-me que nas primeiras semanas, sua irmã andava tomando uns chás milagrosos, e nada acontecia. Tomou em seguida uns remédios mais fortes, que os nomes agora não fazem a menor importancia, nada aconteceu de imediato. Poucos dias depois, comecara a sentir dores na barriga, que foram ficando aos poucos, mais fortes. E quando decidiu aceitar a gravidez, contar à familia, foi espancada na barriga.  E todas as suspeitas sendo do "pai" do bebê. 
O irmão da minha amiga perguntou -me quando eu poderia visita-la no hospital, e chorando, tentei dizer-lhe o quão longe eu morava dali. 
Mesmo morando tao longe, ele tratou de me manter informada de tudo. Me disse que a T. ficou internada por mais alguns dias e quando finalmente 'acordou', sentia -se envergonhada e muito triste. Perdeu algo que tinha começado a aceitar, disposta a enfrentar quem fosse. E depois que ela acordou, o contato que me mantinha informada, deixou de me informar.  Passou-se dias, longos dias, e sem ao menos esperar, recebi uma ligação. Ela mais chorava que falava. Dizia que agora ia ficar tudo bem, tentando se apegar  àquelas palavras. Dizia que estava bem, mas não estava. E quando voltou a chorar, parando dr mentir pra si mesma e assumindo que não estava nada bem, falou-me: " Nunca, nunca mesmo, faça isso. Doi demais" . 



P.s Foi a T. que mesmo hospitalizada, me pediu para escrever sobre isso. Foi duro demais pra mim e principalmente pra ela. Mas ela apenas queria poder ajudar. E sei que vai ajudar muito. Hoje, ela não está mais no hospital, mas o choque ainda está, e para sempre estará, presente. 

14 comentários:

  1. Caraca que história espero que tenha sido bom para você compartilhar com a gente.

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    1. Ainda tá sendo um peso emocional enorme, não sei ao certo como me sinto. Só espero que as pessoas pensem mais. Obrigada por perguntar ♡

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  2. É muito complicado falar sobre esse assunto pois assim como você fez devemos primeiramente ser amigo da pessoa e também ter empatia por ela...Espero que sua amiga fique bem e que procure ajuda psicológica pois é um trauma que ficará para sempre na vida dela mas com ajuda pode ser amenizado...

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  3. Nossa não sei nem o que dizer, é uma história muito triste

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  4. Parabéns pelo texto tão bem escrito. Eu não sei nem o que dizer, diga para sua amiga que ela é forte, lógico que ela não consiguirá esquecer dor tão forte, mas ela vai conseguir seguir <3.

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    1. Obrigada, Jaque, tanto pelo elogio quando pela força ♡

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  5. É um texto forte. Uma situação bem difícil. Ela não é a primeira e nem a última, mas elogio a coragem dela de pedir pra vocês expor isso.

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    1. Espero que esse texto sirva de alerta para muita gente.. Obrigada ♡

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  6. Nossa que história, deve doer demais mesmo, não falo só do lado físico, mas do emocional também. Nem sei o que dizer, muito triste.

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